terça-feira, 30 de junho de 2009

O ENDOSCÓPIO

Mas o ponto mais alto que atingiu em matéria de Óptica foi, sem dúvida, por volta de 1963, a invenção do endoscópio de fibras ópticas, para fins técnicos e de medicina, bem como um derivado especial para assuntos secretos e de espionagem. Tal aconteceu porque uma poderosa empresa alemã, tomando conhecimento das suas habilidades e potencialidades, não hesitou em contactar o empregado bancário português e desafiá-lo para encontrar a solução de um intrincado problema com feixes de fibras ópticas, com que uma equipa de técnicos profissionais se confrontava e não lograva conseguir. A empresa alemã forneceu-lhe a matéria prima necessária, desconhecida no mundo de então, com excepção de uma congénere norte-americana em competição secreta para o mesmo objectivo, mas também sem êxito. E Alves Martins, aceitando o grande desafio, concebeu e construiu, sozinho, aparelhagem para fabricar os dois primeiros feixes de fibra óptica, com o segredo solucionado da transmissão de imagens. Em quinze dias, sobretudo o segundo feixe, porque já beneficiava das correcções dos defeitos ocorridos no primeiro, estava pronto para responder ao desafio dos alemães. Como já havia recebido deles grandes promessas, permitiu que os feixes fossem enviados para a Alemanha e, de imediato, recebeu por carta os maiores elogios pelo rápido sucesso alcançado. Mas antes disso, uma vez que já sabia qual era a finalidade da aplicação dos feixes, não perdeu tempo e concebeu e desenhou o esquema óptico do moderno endoscópio, hoje em serviço em todos os hospitais e clínicas do mundo. Embora tivesse feito o registo de patente em Portugal, Estados Unidos, Alemanha, França e Inglaterra, de nada lhe valeu, as promessas não se cumpriram e como prémio de consolação material, apenas a exibição da medalha de prata com que foi premiado num Salão Internacional de Inventores, em Bruxelas. De então para cá, dezenas de entrevistas a jornais, revistas, rádio e televisão, sempre solicitado com grande e espontâneo apoio, com destaque especial para a Agência de Noticias Europa Press, que, através das suas 90 agências espalhadas em todo o mundo, naquela altura, tão bem soube acusar os alemães e defender o bancário português. Para terminar, nos anos oitenta, realizou-se em Lisboa um Congresso Internacional de Gastrenterologia com a participação de grande número de representantes estrangeiros e de um … endoscópio de fibras ópticas. A Associação Portuguesa de Criatividade reagiu ao evento e enviou um extenso telegrama, informando o Congresso e reclamando para Portugal a glória da invenção do endoscópio, mas os nossos compatriotas presentes e responsáveis, nem sequer tiveram a dignidade de agradecer o telegrama, porque a subserviência nacional só reconhece capacidades e méritos aos estrangeiros.

terça-feira, 16 de junho de 2009

ÓPTICA

Aos seis anos de idade, pela mão do seu padrinho, assistiu pela primeira vez a uma sessão de cinema. Foi no antigo Casino da Figueira da Foz e o que viu haveria de o marcar para sempre. O filme foi o primitivo e célebre “Máscaras de cera”, filme de terror que durante vários anos haveria de recordar cheio de medo, especialmente quando entrava em lugares escuros ou mal iluminados, à semelhança do que acontecera em muitos cenários do filme. Mas o aspecto positivo da sessão de cinema não foi o filme em si mesmo, mas sim o espantoso e movimentado jacto de luz que saia de um “buraco” no alto da parede da sala à sua retaguarda e se projectava numa “parede branca” oposta, onde descortinava grandes maravilhas, pois ficou com a sensação de que não se tratava de pessoas e coisas, tanto mais que não saiam para fora do “quadrado” iluminado, mas sim de um complicado arranjo de muitas e variadas fotografias que se movimentavam, tal como via as pessoas e coisas na vida real. E durante cerca de meia dúzia de anos não foi capaz de encontrar alguém que lhe desse uma explicação que entendesse e o satisfizesse acerca daquela maravilha da Óptica que tanto o intrigava. Por isso, só aos 12 anos de idade, nessa altura a residir em Águeda, onde o seu pai, frequentava a Escola Central de Sargentos, é que teve finalmente a oportunidade de desvendar o mistério. Em Águeda não existia um cinema sequer, mas em dada altura de um Verão, apareceu um entusiasta do cinema bem apetrechado para fazer projecção de filmes ao ar livre. Com autorização da Câmara Municipal, instalado no jardim junto ao rio do mesmo nome da então vila., projectou em episódios durante várias noites, perante grande assistência de garotada e adultos, um filme mudo que lhe pareceu ser bastante longo e que se intitulava “Os Órfãos de Paris”. Pois bem, logo na primeira noite, bem como nas seguintes, o estudante liceal Fernando Martins, ardente de curiosidade, não saía de junto do operador, a quem por vezes dificultava os movimentos, pois tinha de descobrir a marosca custasse o que custasse. E assim, de pormenor em pormenor, acabou por entender o fenómeno de tal modo que, semanas depois, construía um pequeno caixote de madeira equipado com uma vela que seria a fonte luminosa, uma vulgar lupa ou lente convergente que seria a objectiva e um “filme” que era nem mais nem menos de que uma comprida tira de papel vegetal ou papel de seda, composta por várias tiras mais pequenas coladas nas extremidades, mas na qual desenhara a tinta da china, copiando por cima, as maravilhosas imagens das encantadoras histórias do jornal infantil “O Mosquito”. Com o resultado da sua boa habilidade para os trabalhos manuais, aprontou uma caranguejola eficaz com a qual passou a deleitar-se e a deleitar os cachopos da sua idade, em sua casa e muitas vezes em vãos de escadas escuros de prédios, projectando numa parede a cerca de meio metro, a excelente banda desenhada de “O Mosquito”, mas cobrando um tostão (10 centavos) por cabeça. Acabara de instilar o vírus da Óptica em si próprio e para todo o sempre. Este foi o início, mas depois a ambição haveria de exigir mais, muito mais: a construção de um microscópio, de um telescópio e de tudo o que dissesse respeito à aparelhagem óptica utilitária, mas só depois dos 30 anos de idade, é que efectivamente começou a trabalhar seriamente no assunto. Começou por seguir (ingenuamente) os livros de Física, no que respeita à secção de óptica, fazendo experiências com base nas teorias neles expostas, mas pronto reconheceu que não levavam a lado nenhum. Viu-se obrigado a fazer muitas visitas à Feira da Ladra em Lisboa a fim de adquirir lentes para as suas experiências. Alugou dois óculos de longo alcance que desmontou e esquematizou o mais rigorosamente possível (ainda hoje conserva as plantas), mas o grande empurrão foi-lhe dado pelo falecido Comandante Conceição Silva, professor da Escola Naval, notável astrónomo e seu saudoso mestre, que lhe transmitiu, na íntegra, os segredos de um processo artesanal, perfeito, por ele inventado, para talhar e polir lentes a partir de chapas de vidro. Recebeu avidamente as lições necessárias para uma boa aprendizagem, comprou vários livros estrangeiros sob sua indicação e ficou pronto a talhar lentes de várias graduações para oculares e objectivas para telescópios. Daí a construir três telescópios com óptica do seu fabrico foi um ápice. Depois sucederam-se as observações, as sessões em sua casa e em vários locais, para amigos, colegas, familiares e público em geral, e, por fim, a imperiosa necessidade de também fazer fotografia com os seus aparelhos. Daí resultou ter de construir também câmaras fotográficas para os mesmos e bem assim uma tele-objectiva com características especiais. Com este conjunto de aparelhagem e á medida que ia adquirindo conhecimentos e experiência em matéria de fotografia, além da exploração dos céus, conseguiu êxitos extraordinários sobretudo em Telefotografia, colhendo imagens de grande perfeição de objectos em terra até à distância de 25 KM, uma modalidade que é a mais difícil de praticar, devido ás nocivas interferências atmosféricas tais como fumaradas, neblinas e sobretudo irradiação de calor e humidade do solo. Como resultado surgiu uma bela colecção de fotografias diurnas e nocturnas do monumento ao “Cristo Rei” em Almada, tiradas de vários pontos de Lisboa, bem como um grande conjunto de espectaculares panorâmicas de cerca de 180º, tomadas sobre as cidades de Lisboa, Porto, Coimbra e outras localidades como Agualva-Cacém, que foram objecto de inúmeras exposições em diversas instituições e que lhe mereceram os maiores elogios em vários jornais, revistas e televisão.
Foto tirada a 4 900m (1963)

Foto tirada a 2 800m (1964)

Foto tirada a 4 900m (1964)


Foto tirada a 2 800m (1964)

Foto tirada a 3 900m (1964)

Foto tirada a 4 900m (1964)

Foto tirada a 3 900m (1964)
Foto tirada a 4 900m (1964)

Foto tirada a 4 900m (1964)



Foto do Palácio da Pena - Sintra, tirada a 25 km de distância

PSICOLOGIA EXPERIMENTAL

No domínio da Psicologia Experimental nunca se sentiu atraído para o estudo, ainda que auto didacticamente, da matéria cursada mos meios universitários, pois cedo lhe começaram a despertar atenção outros conhecimentos para ele mais aliciantes e de horizontes mais abrangentes, por terem muito a ver com o velho problema do Ser e do Destino do Homem. Não obstante encontrar-se já em Sintonia com a Religião e com a Música, não podia deixar escapar algo de fascinante contido nas impropriamente chamadas Ciências Ocultas, nomeadamente a Quirologia e a Astrologia, que por não serem objecto de protecção de cursos oficiais no nosso País, têm sido alvo fácil de indivíduos sem qualquer qualificação e que sem escrúpulos apenas se servem do seu nome para explorarem o próximo. Contudo, entre os poucos praticantes profissionalizados que conheceu, sempre reconheceu e referiu com grande destaque o notável quiro-astrólogo Raul Lapa, amplamente conhecido no país e no estrangeiro por professor “Horus”, infelizmente já falecido e com o qual manteve durante muitos anos um relacionamento bastante amistoso. Como não podia deixar de ser, teve de arranjar tempo para o estudo dessas ciências, valendo-se de excelente literatura que mandou vir da Argentina – Editorial Kier de Buenos Aires.
Aprendeu o mais que lhe foi possível, o suficiente para convencer-se honestamente de verdades defendidas e propagadas por grandes autores, mas acabou por chegar à conclusão que a sua vida não comportava o tempo suficiente para uma aprendizagem de grande vulto.
Por isso, a sua atenção centrou-se sobretudo noutra ciência, muito menos contestada e igualmente aliciante – a Grafologia. Esta ciência amplamente utilizada em todo o Mundo pela policias judiciárias através dos seus peritos grafólogos, tem por objectivo determinar as potencialidades físicas, morais e mentais de uma pessoa através do estudo da sua letra corrente, mormente depois de já ter atingido um elevado grau de automatismo, logo de individualismo. Alves Martins fez muitas palestras sobre Grafologia em várias instituições de Lisboa, algumas extintas, pelas quais era sempre muito solicitado, porque as suas sessões terminavam sempre com uma análise de manuscritos que lhe eram apresentados por muitas pessoas da assistência, previamente avisadas para o efeito, através de comunicados dessas instituições.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

MÚSICA

Desde tenra idade, 4 ou 5 anos, revelou grande sensibilidade para a música, aprendendo rapidamente as canções da sua época, que transmitia aos seus familiares e amigos através da sua vozinha de menino de coro que, segundo os seus pais, era muito apreciada e solicitada, especialmente em reuniões de família. Como a atracção pela música era muito grande, sobretudo no contacto com instrumentos musicais, os seus pais apenas o iam consolando de vez em quando, com uma harmónica bocal de escala diatónica, a vulgar gaita-de-beiços, que rapidamente aprendeu a dominar. Com elas se ia deleitando ao interpretar tudo quanto era música popular e só mais tarde, por volta dos 14 anos, já estudante liceal, teve, oferta do pai, uma harmónica de três escalas cromáticas. Com ela, alegrou bailaricos na terra natal dos seis pais, aldeia raiana do concelho do Sabugal.
Terminado o liceu, foi trabalhar num escritório, o que permitiu comprar livros de teoria musical, solfejo e composição. Nessa altura, rapaz de 18 ou 19 anos, entregou-se à sua paixão pela música desaguando no oceano encantado da Grande Música do Período Clássico, mas sobre tudo na música do período mais belo de sempre, o Período Romântico.
E a composição, para a qual se sentia impelido com uma força irresistível, passou a ser o seu desejo mais profundo. Estudou e aprendeu sozinho o mais que lhe foi possível, mas só depois de ter dado entrada em novo emprego, na Caixa de Previdência, em 1947, aos 20 anos, lhe foi possível ampliar mais os seus estudos.
Entretanto acontece um compasso de espera com a chamada para o serviço militar. Depois de concluído o curso de oficial miliciano na Escola Prática de Infantaria em Mafra, foi colocado no extinto Batalhão de Engenhos na Amadora, cujas instalações estão hoje ocupadas pela Academia Militar. No prazo de tempo decorrido no Batalhão cerca de dois anos, apenas merece ser referido um episódio deveras interessante relacionado com a música. Nessa altura, o alferes miliciano Martins já possuía outra harmónica bocal mais sofisticada - uma HOHNER de quatro escalas cromáticas - com a qual se deleitava, interpretando peças de musica tanto do seu agrado, mais adiante referida, como o "Cisne" de Saint Saens, as "Avé Maria" de Schubert e de Gounod e "Meditação" de Massenet, por exemplo. Assim, a partir de determinada altura, sempre que lhe cabia entrar de serviço ao Batalhão como oficial de prevenção, levava de casa a sua harmónica para o quartel, a fim de passar melhor e mais agradavelmente o período nocturno de vigilância que lhe competia.
Logo que o serviço o permitisse, entrava na sala dos oficiais e aí, num silêncio nocturno aprazível, sem ligar patavina ao aparelho de rádio que equipava a sala, tocava as suas melodias preferidas, incluindo já algumas da sua autoria.
Certa noite, sem que o Alferes Martins suspeitasse que a soldadesca já sabia dos seus recitais nas noites dos seus dias de prevenção, teve uma surpresa muito agradável. Quando deu por ela, alguns soldados que se encontravam no lado de fora da porta de entrada da sala de oficiais, abriram ligeiramente e certamente a medo a porta, o que motivou reacção imediata do oficial concertista. Efectivamente, um punhado de rapazes humildes e amantes de musica ali estava já algum tempo a ouvir uma “gaita de beiços” que naqueles tempos era um instrumento muito apreciado pela rapaziada. Disseram que já haviam assistido e ouvido às escondidas noutras ocasiões. Mas, coisa espantosa e comovente. Aqueles rapazes extraordinários, estiveram-se nas tintas para o Regulamento de Disciplina Militar, pois era depois do “Toque a Silêncio” que eles se levantavam das suas camas e, à socapa, se encaminhavam, para ir ouvir o recital que tanto apreciavam. Em vez de serem repreendidos pela infracção ao R.D.M., o oficial de prevenção fez vista grossa, continuou sempre a faze-lo e mais, passou a incluir também peças muito mais apreciadas por eles, como, marchas, corridinhos, tangos, valsas, tangos, rumbas, fados, etc. Terminada a tropa, regressou à sua Caixa de Previdência e continuou com os seus estudos.
Recebeu lições de violino e piano durante dois anos cada, por professores particulares, mais para perceber e compreender a mecânica e execução desses maravilhosos instrumentos. Mas a ajuda mais importante recebeu-a de uma senhora vizinha, que sempre gentilmente, se dispunha a dedilhar no seu piano, com grande curiosidade, e também admiração, as modestas composições do seu vizinho. Essa ajuda foi ainda mais proveitosa, porque o facto de serem vizinhos no mesmo prédio, facilitava as possibilidades de contacto. E assim, pouco a pouco, com calma e determinação, as peças foram-se avolumando pelos anos fora e hoje, atingem um conjunto de cerca de setenta peças escritas para piano, violino e piano, violoncelo e piano, e canto e piano, quase todas no estilo da Música de Salão do Período Romântico. Como as composições iam nascendo na forma de manuscritos, como é óbvio, cedo verificou a necessidade de musicografar as suas peças, pois os manuscritos muito dificilmente seriam entendidos por um intérprete, devido às emendas, rasuras, pressas, má distribuição das massas gráficas, etc. Por isso valendo-se do seu gosto por desenho geométrico e habilidade nos trabalhos manuais, misicografou, isto é, desenhou todas as suas peças, que parecem ter sido impressas numa tipografia. É que o trabalho que teria de dar a um musicógrafo profissional teria de ser pago a peso de ouro. Apesar de muitas dificuldades, invejas e escárnios sofridos, a sorte haveria de lhe dar a mão, na magnanimidade, compreensão e carinho da Administração do seu Banco.
A ajuda tão preciosa teve início em 1990 pela mão do então Governador, Dr. José Alberto Tavares Moreira, secundada nos anos seguintes pelos Governadores, Prof. Dr. Luís Miguel Pizarro Beleza e Prof. Dr. António José Fernandes de Sousa. Injustiça seria se também não fossem lembrados os Vice-Governadores Dr. João António Morais Costa Pinto e Dr. António Carlos Palmeiro Ribeiro e os Administradores Dr. José António Cardoso Veloso, Prof. Dr. Abel Moreira Mateus, Dr. Bernardino Manuel Costa Pereira e Prof. Dr. José Leite Campos, pois que todos eles tão bem souberam valorizar, acarinhar e estimular a prata da casa, na pessoa do seu Especialista Principal de Meios Audiovisuais, com a realização de seis recitais de Musica de Salão, num total de 50 peças, preenchendo a parte cultural das comemorações do Dia do Reformado do Banco de Portugal. O final da 2ª parte dos recitais foi sempre concretizado com duas peças bailadas por dois dançarinos, profissionais tais como os intérpretes instrumentistas. Os espectáculos terminavam sempre em beleza, muito ovacionados por grande assistência de colegas do Banco, familiares e amigos convidados. Hoje vive o fascínio da Música, ouvindo as maravilhas dos grandes mestres do Romantismo, em alternância com as gravações das suas modestas mas muito queridas composições.



Recital S. Carlos (1991)





Recital Gulbenkian (1993)

Peça composta e musicografada (escrita à mão) pelo autor