segunda-feira, 22 de março de 2010

Energias Alternativas - Energia das Marés - I Parte

1980 foi um ano de grande seca em Portugal, que provocou um armazenamento muito fraco de águas fluviais nas albufeiras das nossas Centrais Hidroeléctricas. Não obstante possuirmos nessa altura, cerca de meia centena dessas Centrais e cerca de meia dúzia de Centrais Termoeléctricas, que em anos normais de pluviosidade não produzem mais que 30 ou 40% da energia necessária, nesse ano, foram muitos mais os milhões gastos com a importação de electricidade estrangeira. Os jornais e demais órgãos de comunicação noticiaram largamento o acontecimento, que acabaria por sensibilizar intrigar o inventor do endoscópio de fibras ópticas e não só, obrigando-o a pôr a si próprio as seguintes perguntas: será que estão esgotadas todas as possibilidades de produzir electricidade? Não haverá nesse universo um buraco por onde possa meter o nariz? Embora partindo praticamente da estaca zero em matéria de energia, ganhou forças para enfrentar o gigante desafio e sempre que lhe surgiam momentos oportunos dava largas à sua imaginação ainda dispersa, mas fortemente determinante, pois tinha a intuição que o “buraco”, mais tarde ou mais cedo, haveria de aparecer. E logo, por sorte, com o País ainda a viver a forte celeuma da seca, ouviu dois distintos engenheiros electrotécnicos, em programas separados de Televisão, em que explicavam o funcionamento da Central Geotérmica dos Açores e outro, o funcionamento da Central Hidroeléctrica do Castelo de Bode. A avidez com que os escutou e o forte desejo de entender esses funcionamentos, de imediato, após a audição do segundo engenheiro, verificou, sem margem para dúvidas, de que ambos haviam cometido o mesmo erro de palmatória. Claro que não se tratava de erro motivado por ignorância, era o que faltava, mas sim de uma falha de expressão, motivada talvez por um hábito pernicioso de aligeirar uma explicação. Ambos já eram vítimas desses hábitos e, por isso, quando nas suas dissertações chegavam ao ponto em que entrava em acção a turbina, ambos ficaram por ali, afirmando que ela produzia então a tão desejada electricidade. Ora o que acontece não é bem isso, pois que no caso da Central Geotérmica, como no da Central Hidroeléctrica, as respectivas turbinas são postas em movimento rotativo, na primeira pelo impacto da força colossal de um potente jacto de vapor de água a alta pressão e na segunda pelo impacto de força idêntica de uma colossal coluna de água de alta pressão porque captada no fundo da barragem e conduzida até à turbina por estrutura própria da barragem. Portanto, uma turbina é um engenho mecânico cuja função é captar o impacto de uma força que a faça entrar em poderoso movimento rotativo e como o seu eixo está solidário com o eixo do indutor de um gerador, este e só este é que produz a electricidade. Portanto a falha dos engenheiros foi o esquecimento dos geradores, atribuindo às turbinas uma função para a qual não são construídas. Essa falha foi o suficiente para convencer Alves Martins de que talvez já existisse generalizada, a convicção de que a existência de uma turbina era imprescindível para o aproveitamento de uma força da Natureza. Tornava-se, portanto, necessário acabar com o casamento da D. Turbina com o Sr. Gerador e arranjar maneira de pôr esta a trabalhar sem a ajuda da sua tradicional muleta, utilizando, se possível, a força de uma energia natural, renovável, gratuita e sobretudo não poluente. Tudo parecia indicar que este seria o caminho a seguir para encontrar o tal “buraco”, mas que, certamente haveria de ser bastante longo e penoso. Por isso teria que documentar-se, primeiro o mais e melhor que pudesse sobra as nossas Centrais Hidroeléctricas e Térmicas, funcionamento e potência de geradores, etc. , que foi meticulosamente conseguindo sem desfalecimentos e sempre com forte determinação, até que um dia, em sua casa, lhe despertou mais do que nunca , até então, o bater das horas de um relógio de cuco que ainda hoje possui e que se encontra pendurado numa parede de uma sala de estar. Como é sabido esse tipo de relógio não possui a tradicional corda de fita de aço, ou, mais modernamente, uma pilha eléctrica para accionar o seu mecanismo, pois este funciona sob acção de energia potencial de dois corpos pesados de ferro fundido em forma de pinha, que se encontram suspensos por delicadas correntes metálicas engrenadas no mecanismo de carretos do relógio. É, pois, o peso das pinhas, que, na sua lenta descida e só na descida, por intermédio das correntes, faz funcionar o mecanismo do relógio. Quando termina a sua descida, limitada pela dimensão das correntes, o relógio pára e só volta a funcionar quando a força de uma mão colocar as pinhas nos seus pontos de partida. Foi, portanto, um simples relógio de cuco, a fonte de inspiração para a aplicação da energia potencial de um corpo super pesado, porventura de centenas de milhar de toneladas de peso, para fazer funcionar uma série de geradores. Estava encontrada metade da solução, a energia de um corpo super pesado em descida lenta sob a acção da gravidade. Mas para o problema ficar totalmente resolvido, apenas com a intervenção de forças naturais, gratuitas, renováveis e não poluentes, faltava outra força, igualmente poderosa capaz de fazer a inversão do movimento do corpo, obrigando-o também a uma lenta subida até ao ponto de partida. E a solução final era inevitável. A acção conjugada de duas energias da Natureza, a energia potencial de um corpo flutuante de grande calado e tonelagem e a energia das marés actuando sobre ele, forçando-o a uma movimentação vertical de sobe e desce de grande potência como se fora um gigantesco piston. (Continua)

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