Aos seis anos de idade, pela mão do seu padrinho, assistiu pela primeira vez a uma sessão de cinema. Foi no antigo Casino da Figueira da Foz e o que viu haveria de o marcar para sempre. O filme foi o primitivo e célebre “Máscaras de cera”, filme de terror que durante vários anos haveria de recordar cheio de medo, especialmente quando entrava em lugares escuros ou mal iluminados, à semelhança do que acontecera em muitos cenários do filme. Mas o aspecto positivo da sessão de cinema não foi o filme em si mesmo, mas sim o espantoso e movimentado jacto de luz que saia de um “buraco” no alto da parede da sala à sua retaguarda e se projectava numa “parede branca” oposta, onde descortinava grandes maravilhas, pois ficou com a sensação de que não se tratava de pessoas e coisas, tanto mais que não saiam para fora do “quadrado” iluminado, mas sim de um complicado arranjo de muitas e variadas fotografias que se movimentavam, tal como via as pessoas e coisas na vida real. E durante cerca de meia dúzia de anos não foi capaz de encontrar alguém que lhe desse uma explicação que entendesse e o satisfizesse acerca daquela maravilha da Óptica que tanto o intrigava. Por isso, só aos 12 anos de idade, nessa altura a residir em Águeda, onde o seu pai, frequentava a Escola Central de Sargentos, é que teve finalmente a oportunidade de desvendar o mistério. Em Águeda não existia um cinema sequer, mas em dada altura de um Verão, apareceu um entusiasta do cinema bem apetrechado para fazer projecção de filmes ao ar livre. Com autorização da Câmara Municipal, instalado no jardim junto ao rio do mesmo nome da então vila., projectou em episódios durante várias noites, perante grande assistência de garotada e adultos, um filme mudo que lhe pareceu ser bastante longo e que se intitulava “Os Órfãos de Paris”. Pois bem, logo na primeira noite, bem como nas seguintes, o estudante liceal Fernando Martins, ardente de curiosidade, não saía de junto do operador, a quem por vezes dificultava os movimentos, pois tinha de descobrir a marosca custasse o que custasse. E assim, de pormenor em pormenor, acabou por entender o fenómeno de tal modo que, semanas depois, construía um pequeno caixote de madeira equipado com uma vela que seria a fonte luminosa, uma vulgar lupa ou lente convergente que seria a objectiva e um “filme” que era nem mais nem menos de que uma comprida tira de papel vegetal ou papel de seda, composta por várias tiras mais pequenas coladas nas extremidades, mas na qual desenhara a tinta da china, copiando por cima, as maravilhosas imagens das encantadoras histórias do jornal infantil “O Mosquito”. Com o resultado da sua boa habilidade para os trabalhos manuais, aprontou uma caranguejola eficaz com a qual passou a deleitar-se e a deleitar os cachopos da sua idade, em sua casa e muitas vezes em vãos de escadas escuros de prédios, projectando numa parede a cerca de meio metro, a excelente banda desenhada de “O Mosquito”, mas cobrando um tostão (10 centavos) por cabeça. Acabara de instilar o vírus da Óptica em si próprio e para todo o sempre. Este foi o início, mas depois a ambição haveria de exigir mais, muito mais: a construção de um microscópio, de um telescópio e de tudo o que dissesse respeito à aparelhagem óptica utilitária, mas só depois dos 30 anos de idade, é que efectivamente começou a trabalhar seriamente no assunto. Começou por seguir (ingenuamente) os livros de Física, no que respeita à secção de óptica, fazendo experiências com base nas teorias neles expostas, mas pronto reconheceu que não levavam a lado nenhum. Viu-se obrigado a fazer muitas visitas à Feira da Ladra em Lisboa a fim de adquirir lentes para as suas experiências. Alugou dois óculos de longo alcance que desmontou e esquematizou o mais rigorosamente possível (ainda hoje conserva as plantas), mas o grande empurrão foi-lhe dado pelo falecido Comandante Conceição Silva, professor da Escola Naval, notável astrónomo e seu saudoso mestre, que lhe transmitiu, na íntegra, os segredos de um processo artesanal, perfeito, por ele inventado, para talhar e polir lentes a partir de chapas de vidro. Recebeu avidamente as lições necessárias para uma boa aprendizagem, comprou vários livros estrangeiros sob sua indicação e ficou pronto a talhar lentes de várias graduações para oculares e objectivas para telescópios. Daí a construir três telescópios com óptica do seu fabrico foi um ápice. Depois sucederam-se as observações, as sessões em sua casa e em vários locais, para amigos, colegas, familiares e público em geral, e, por fim, a imperiosa necessidade de também fazer fotografia com os seus aparelhos. Daí resultou ter de construir também câmaras fotográficas para os mesmos e bem assim uma tele-objectiva com características especiais. Com este conjunto de aparelhagem e á medida que ia adquirindo conhecimentos e experiência em matéria de fotografia, além da exploração dos céus, conseguiu êxitos extraordinários sobretudo em Telefotografia, colhendo imagens de grande perfeição de objectos em terra até à distância de 25 KM, uma modalidade que é a mais difícil de praticar, devido ás nocivas interferências atmosféricas tais como fumaradas, neblinas e sobretudo irradiação de calor e humidade do solo. Como resultado surgiu uma bela colecção de fotografias diurnas e nocturnas do monumento ao “Cristo Rei” em Almada, tiradas de vários pontos de Lisboa, bem como um grande conjunto de espectaculares panorâmicas de cerca de 180º, tomadas sobre as cidades de Lisboa, Porto, Coimbra e outras localidades como Agualva-Cacém, que foram objecto de inúmeras exposições em diversas instituições e que lhe mereceram os maiores elogios em vários jornais, revistas e televisão.
Foto tirada a 4 900m (1963)
Foto tirada a 2 800m (1964)
Foto tirada a 4 900m (1964)
Foto tirada a 2 800m (1964)
Foto tirada a 3 900m (1964)
Foto tirada a 4 900m (1964)
Foto tirada a 3 900m (1964)
Foto tirada a 4 900m (1964)
Foto tirada a 4 900m (1964)
Foto do Palácio da Pena - Sintra, tirada a 25 km de distância
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